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12/03/2020

O que você precisa saber sobre coronavírus em animais domésticos como cães e gatos

Os especialistas acreditam que o covid-19, que se tornou epidêmico entre humanos, teve origem em morcegos ou pangolins, mas esses estão longe de ser os únicos animais acometidos por coronavírus. Na realidade, variedades do coronavírus são comuns em inúmeras espécies, inclusive aquelas que estão mais próximas dos humanos, como cães, gatos, aves comerciais e bovinos. Quando infectados, esses animais em geral apresentam sintomas leves. Além disso, estão providos de algo que ainda não existe para as vítimas do coronavírus: vacinas.

— Em qualquer carteirinha de vacinação de cachorro, se olhar a polivalente, lá está o coronavírus — afirma o médico veterinário Alexandre Pezzi. 

Especialistas afirmam que não há motivo para os humanos temerem a circulação da doença entre seus pets. A possibilidade de o vírus pular de uma espécie para outra — como ocorreu com o novo coronavírus humano — é um evento extremamente raro, que depende de muitas condições.

No caso dos cães, existem três variedades de coronavírus: o tipo 1, o tipo 2 e o coronavírus respiratório.

— Os tipos 1 e 2 normalmente causam doença muito leve e podem provocar diarreia. O coronavírus respiratório também é leve, mas provoca infecção respiratória. O cão pode espirrar, tossir e ter dificuldade para respirar. Eventualmente há febre, mas não é usual. São infecções muito comuns em cães, mas não só em cães, em todas as espécies. Mortes por coronavírus em animais são exceções — diz Paulo Michel Roehe, professor de virologia do departamento de microbiologia, imunologia e parasitologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Segundo Roehe, o coronavírus respiratório em cães é relativamente recente. Estudos apontam que ele teria origem bovina, passando a infectar cachorros em 1951. Os outros dois vírus caninos, no entanto, têm ancestrais comuns com as variedades felinas.

Como atinge os gatos

Nos gatos, as infecções por coronavírus também costumam ser leves, mas um dos vírus que sofreu mutação pode levar a uma doença grave chamada peritonite infecciosa, em que a barriga do animal fica inchada. Aves comerciais, que devem ser vacinadas, podem desenvolver bronquite infecciosa. Já em bovinos, é muito frequente que ocorra diarreia em terneiros jovens, de acordo com Celso Pianta, professor de microbiologia e saúde pública da Faculdade de Veterinária da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra).

— Existem quatro grupos de coronavírus: alfa, que afeta mamíferos como gatos e cães, beta, dos humanos, gama e delta, encontrado em aves e peixes. São quatro famílias com diferenças grandes. Os outros vírus não se relacionam com os nossos. Não é uma grande preocupação, porque não se transmitem para nossa espécie. Mas sempre ficamos atentos. A Organização Mundial de Saúde, o Centro de Controle de Doenças Transmissíveis e Organização Mundial de Saúde Animal estão vigilantes, e qualquer caso suspeito de transmissão entre animal e humano precisa ser notificado — afirma Pianta. 

Roehe observa que os coronavírus humanos vieram de animais, mas concorda que não há motivo para receio. Para conseguir passar de uma espécie para outra, observa ele, é necessário que ocorra uma mutação muito específica. Além disso, não basta a mutação permitir que o vírus passe de um animal para uma pessoa. Também é preciso que ela permita a transmissão entre pessoas.

— Felizmente, isso é muito raro. Não tem porque se preocupar com o coronavírus nos animais domésticos. Nós também estamos cheios de vírus, que fazem parte da nossa microbiota. Alguns trabalhos estimam que dentro de cada um de nós habitam 100 trilhões de micro-organismos — diz o professor. 

O veterinário Alexandre Pezzi afirma que, depois que se noticiou que um cachorro de uma paciente de covid-19 havia sido infectado em Hong Kong, alguns clientes fizeram contato para manifestar sua preocupação com os próprios animais de estimação. Ele procurou tranquilizá-los.

— Quem tiver contato com um animal infectado não vai pegar, com certeza. Esses vírus não pegam em gente — diz Pezzi.

A recomendação para quem tem um pet é informar-se sobre vacinas disponíveis. Caso o animal adoeça, é indicado evitar o contato com outros espécimes, para prevenir a transmissão.